2/22/2007

A ponta do Iceberg

Mudanças do clima, mudanças de vida
O Aquecimento Global deixou de ser uma grande ficção científica, de enredos grandiosos, apocalípticos, montados em cima de cenários matemáticos catastróficos.
Hoje é uma realidade.
Existem algumas teorias conspiracionistas dizendo que isso tudo é uma grande piada.
Tem gente que gosta de conspiração.
Eu até entendo, é mais bacana dizer que as pirâmides do Egito foram criadas por ET's do que frutos do suor escravo humano. Quanto vale um homem: seu suor, seu sangue ou suas lágrimas?

Nesse caso, é mais fácil culpar os países interessados na assinatura dos EUA do Protocolo de Kioto, diminuindo assim a sua potência econômica, declinando e trazendo à tona novas economias (vide: A fria perspectiva dos cientistas sobre o aquecimento global e Revista Veja, mais uma vítima do efeito estufa) emergentes, do que nos declarar também culpados.
Eu admito, é tentadora.

Ainda mais quando vemos que na década de 70 houve um surto de "esfriamento global", onde afirmaram que estávamos à um passo de uma nova era glacial. "O mundo está se esfriando, podemos sentir". Semelhante.

O planeta está mudando (e não da forma que Tolkien dissera anteriormente). Deixemos de pensar que somos ilhas e vejamos que somos parte integrante de um grande continente, que está morrendo.

E que com ele nós nos vamos também.
Não falo só do aquecimento global. Crianças matando crianças. Quando uma se vai, vai-se um pouco de nós também. Da nossa inocência; da nossa esperança; da nossa fé na humanidade. Não fazer nada é se perder na imensidão do vazio. O pior: deixar-se levar por isso tudo, apático.

Quando vemos um acidente, de carro, por exemplo.
A primeira reação é a de procurar saber o que ocorreu. Quem estava no meio, quem bateu em quem.
A segunda, se alguém se machucou, se está tudo bem. Polícia por perto, ambulância?
A terceira é de agradecer por não ser com você. Ver se não tem algum conhecido, se benzer e seguir em frente.

Curiosidade; "preocupação" (pra ver se foi com algum conhecido, que importa um estranho?) e egoísmo. Humanidade talvez. Concorda?

Aí é que está a pior parte: um prazer inegável de não ser o outro, de não ver-se refletido na face sofrida, nas mãos calejadas, nas costas marcadas de quem sofreu o acidente.

Hoje, o aquecimento global é uma realidade. Por enquanto, talvez não a sinta tão devastadora.
"Secas extremas, inundações, furacões.." Você sabe que não está certo ver como ficção científica algo que apenas não é a sua realidade.

Isso é só a ponta do iceberg. Aprecie a ironia.

2/17/2007

O Outro Lado da Moeda

O Outro lado da Moeda.

Os remorsos seriam obscenos porque implicam tentativa racionalizante, pouco importa se falha e falida, de negar-se como aquele que teria agido assim ou assado.
A frase-emblema do homem bem poderia ser: “se eu pudesse voltar atrás, faria tudo diferente, ah, não faria aquilo que fiz”. O arrependido tenta desobrigar-se de sua responsabilidade não só perante os demais, mas, principalmente, perante a si mesmo, uma vez que procura negar ser aquele que foi (negação, de resto, absurda, porque impossível).
Sustenta-se na possibilidade de poder voltar atrás e desfazer não só o que fez e disse, como ainda todas as conseqüências (quando essa possibilidade, simplesmente, não há).
Elide os fenômenos da sua história particular, tentando esgarçar e desmontar as relações em nome de um valor superior (aquele no qual pensa só-depois) que, todavia, não existe. O que há é irresponsabilização, se as conseqüências do que fizemos nos alcançam de qualquer modo, indiferentes a que tenhamos “melhorado” nesse meio-tempo, indiferentes às nossas manifestações mais ou menos compungidas de arrependimento.
Se o fizemos, se o dissemos, é porque o quisemos, é porque foi de algum modo preciso, necessário; se o fizemos, se o dissemos, é porque assim mesmo nos constituímos o que agora somos, é porque de algum modo valeu a pena; se o fizemos, se o dissemos, logo, devemos desejar fazer e dizer novamente, celebrando a vontade e o desejo como a essência do que somos.

Na verdade, só afirmando o tempo passado se pode afirmar o passar do tempo. Por isso, o eterno retorno compõe-se dentro de uma doutrina ética que, justamente, celebra a vida.

2/10/2007

Até quando?

Já falei sobre a apatia que rege o nosso cotidiano. Uma apatia a tudo o que nos possa parecer. Foge do calor humano. Da primazia inicial que nos era inata.

"João Hélio Fernandes, de 6 anos, morreu na noite de quarta-feira após ser arrastado por 14 ruas, um trajeto de sete quilômetros que cruzou quatro bairros do Rio de Janeiro. O menino foi levado pelos rapazes que roubaram o Corsa de sua mãe que viu tudo. O garoto ficou preso ao cinto de segurança, do lado de fora do veículo. Durante o trajeto, o menino teve a cabeça arrancada."

É este o mundo que nós criamos? Fizemos à nossa semelhança? Até quando vamos nos chocar com notícias como estas, e então vermos tudo de novo?

Vamos discutir isso?
Você realmente se interessa?

Você tem tempo? Então você é culpado.

Vai esperar acontecer perto de ti, com alguém que você ama, pra se chocar e criar um pseudo sentimento de revolta? Culpado!

Quantas lágrimas mais têm de ser derramadas para percebermos que estamos no caminho errado?

Já parou pra pensar no sofrimento da mãe, que assistiu ao filho sendo carregado 7 quilômetros?
No pai? Que o criou com amor, depositou nele as esperanças e desejos que nele não se concretizaram, porque um demônio roubou o seu bem mais precioso? Que viu a vida desmoronar em 15 minutos?

Perto de sua sepultura, pensamentos foram perdidos, enxugam as lágrimas que caem. Momentos recordados nos olhos de uma criança, voando através das estrelas, sem esconder suas cicatrizes.

Você acha que isso não te atinge, que o problema não é seu? Culpado, culpado, culpado!

Quantos inocentes têm de morrer na fúria de um desalmado para vermos que está na hora de dar um basta? Quem ocupa o trono tem culpa, quem oculta o crime também. Apático então? Culpado! Todos temos um pouco de culpa.

São culpados aqueles que acreditam não fazerem a diferença, que suas pequenas atitudes não resultarão em grandes feitos.

Seu comportamento alienado e indiferente me dá nojo. E esse assunto vai ser esquecido. Antes da quaresma, há o carnaval. E ninguém se lembrará disso. O que não é inesperado. O brasileiro dribla a tristeza e se faz feliz com pouco, mas esquece do que realmente deveria ser lembrado.

Um desalmado é capaz de arrastar seu filho por sete quilômetros até lhe arrancar a cabeça.
Quem dera fosse figura de linguagem.

É hora de parar e repensar a vida. Há tempo de recuperarmos nossa fraternidade?

Temos que ser fortes e estabelecermos limites. Temos que recuperar os valores perdidos em uma sociedade corrompida pela ganância humana, uma sociedade pseudo-moralista, onde o ser humano é o ser mais desumano.

Temos que acreditar que podemos mudar.