1/29/2008

Final I

E as ondas devoram léguas sem pressa de chegar. Sem pressa o sol também se demorava a iluminar a areia, a lua cheia se continha no céu, sem querer perder seu brilho na imensidão de um teto infinito e sem nuvens. Para ele, a madrugada foi longa demais, simplesmente.
Para ela? Simplesmente para ela não houve amanhecer. As águas da praia foram então refúgio de suas dores e suas lágrimas, e o sol nascente revelou consigo não só a beleza daquele cenário, mas o sangue que de escarlate tingiu a imensidão azul do mar.

1/28/2008

Parte III

Ao terceiro dia, doces eram as promessas, sutis eram os abraços, e as idas à praia eram acompanhadas sempre de música e de lua a prestigia-los. Eles não falavam de despedidas, mas era de comum conhecimento que o seu caso tinha prazo curto.
Ele gostava da conquista, e ela era um atalho à sua perdição, com respostas rápidas, que lhe roubava as palavras, e lhe deixava um sorriso bobo. Mas as respostas se repetiam, e ele deixava de sonhar com ela: já a tinha nas mãos.
O trago e o estrago já se confundiam entre os seus versos. Ao final do quinto dia, a lua cheia lhes criava o cenário ideal, mas o silêncio envolvia de receios aquele ambiente. Ela sentia a falta dos sussurros de antes. Era o despertar de um sonho.
Uma volta para a realidade? As palavras surgiram então como reflexo difuso de uma tranposição nervosa. Medo,anseio, insegurança tomam os doces lábios que momentos antes só guardavam amores de um coração para outro.
Uma lágrima cai ao chão, apesar de seu esforço para contornar a situação. Ele ainda tenta segura-la (em vão). Ela corre pela areia, trêmula, sem olhar para trás, sem ouvir o vento, sendo o céu e o mar armadilhas para os seus olhos.

1/27/2008

Parte II

Se entregar foi a solução que ele encontrou no momento em que a viu. Ela lhe arrancava sorrisos sinceros, seus abraços colados e calados traziam uma inocência que ele já não acreditava mais. Ele já não acreditava no sentimento, Amor era só mais uma palavra sem tradução.
Ou era apenas o Verão? Ele não sabia das respostas, não procurava sequer conhecer as perguntas, mas não guardava dúvidas quanto ao que queria: simplesmente não iria deixa-la passar em branco.
Como uma brincadeira foram-se os encontros e vieram os desencontros. Cresceu então o jogo da sedução, de palavras e de emoção, de prosa presa, de magia, de encanto e de solidão. A sensação tornara-se ilusão, pois a certeza de te-la na mão transformou-a em mais uma feliz desilusão.

1/26/2008

Parte I

E era só mais uma brincadeira, daquelas tantas de verão que não duram até o carnaval. Era o que os amigos diziam uns aos outros enquanto esperavam pelo casal, cansados e com sono. Mas as promessas que os dois trocavam nas despedidas, entre olhares e mordidas, revelavam futuras carícias.
Ele nunca soube dizer se era a marca de biquíni, o sorriso repleto de perdição, o mar que os prestigiava ou simplesmente o verão a razão de seu encanto. Mas ela não saía de sua cabeça, que o seu afeto o afetou é fato.
Porém, ele era mais um estranho naquela praia. Um viajante que uma semana passaria com seus primos e uma semana durariam os seus beijos e abraços. Ele não tinha tempo, nem mesmo medo e se entregar não seria apenas uma opção.

1/18/2008

O continente esquecido por Deus

O filme comentado dessa vez será 'Diamante de Sangue', que se passa no contexto da guerra civil que existiu em Serra Leoa durante a década de 90, caracterizado pela escravidão, pelos soldados mirins,por um governo corrupto e violento, e por empresas mineradoras sedentas por lucro.
O país, que apresenta o pior IDH - 0,335 - e a maior taxa de mortalidade infantil do mundo (161/mil habitantes), teve a sua independência da Inglaterra em 1961, herdando como idioma oficial o inglês.
Em 91, quando o então presidente Momoh decidiu reformar a Constituição de Serra Leoa, garantindo direitos fundamentais, pluripartidarismo e diversos outros fundamentos democráticos, as mudanças foram acompanhadas de um tremendo abuso de poder e também de corrupção.
Essas atitudes, junto dos problemas administrativos nas minas de diamantes, uma vez que Serra Leoa apresenta ricas jazidas de diamante, de rutilo e depósitos de bauxita, geraram o descontentamento da população com o governo, e assim formou-se o cenário ideal para uma guerra civil, que durou de 1991 até 2002 (oficialmente).
A desestruturação do Estado e a opressão da oposição civil geraram um ambiente propício ao tráfico de drogas, de armas e de munição. A Libéria, país que faz fronteira com Serra Leoa, também vivia uma guerra civil e ajudou, na figura do então presidente Charles Taylor, a formar a Frente Unida Revolucionária (RUF), um grupo civil de reacionários que começou o seu domínio no leste do país, numa área rica em diamantes e, por não receber uma resistência significativa do governo, conseguiu se expandir até chegar à capital.
Houve então declarado o estado de emergência, o fim da liberdade de imprensa e de discurso. A RUF expandiu o seu poder no país, através do recrutamento de meninos-soldados. A ONU foi enviada então para Serra Leoa, que já tinha diversas facções: o governo, a RUF e os diversos exércitos particulares contratados pelos donos de mineradoras, que exerciam seu poder na região. A ONU havia enviado inicialmente 6 mil homens, porém não foram o suficiente, visto que a RUF manteve 500 deles como reféns, então houve um novo envio de tropas de 7 mil homens, totalizando 13 mil.
A guerra civil teve seu fim então em 2002, com um saldo de 50 mil mortos, 500 mil refugiados em países vizinhos e diversos amputados.
Charles Taylor, então presidente da Libéria, foi acusado em 2002 (após cumprir 2 anos de exílio na Nigéria) por embaixadores e membros do Conselho de Segurança da ONU por 11 crimes de guerra cometidos em Serra Leoa, onde ele se beneficiava com o comércio de diamantes e de armas e lucrava pessoalmente com isso.

Hoje, no mundo inteiro, estima-se que mais de 300 mil crianças lutam com armas, seja para os mocinhos ou para os bandidos, e em Serra Leoa 15 mil garotos pegaram em fuzis para defender suas vidas.
Ishmael Beah foi recrutado com 12 anos pela RUF, após os rebeldes terem assassinado a sua família. Ele teve então um treinamento militar primitivo e fez parte da linha de frente da RUF, tendo que matar até seus familiares também. Ele narra, em seu livro: 'A longa jornada: memórias de uma criança soldado', que era estimulado pelos comandantes através de bebidas alcólicas, cocaína e outras bebidas para realizar tais trabalhos.
Ele passou por uma fase de adaptação na ONU e foi adotado por pais americanos, se formou em Ciências Políticas e acredita que com o seu livro será capaz de ver uma luz para essas 300 mil crianças que hoje portam de armas para conseguir sobreviver.

1/17/2008

Make Trade Fair, EMI!!!!


Bateu vontade de voltar a escrever nesse blog, afinal, o meu ócio improdutivo pode tornar-se criativo, não é mesmo? E toda forma de expressão é bem-vinda, como sempre.

Estava ouvindo The Scientist, do Coldplay e resolvi falar então sobre a campanha que o seu cantor, Chris Martin, levanta a bandeira em seus shows, através de discursos, camisetas e pinturas pelo corpo: Make Trade Fair.

Essa campanha busca a igualdade (representada por duas retas horizontais) comercial entre os países em desenvolvimento e os de primeiro mundo, através do Comércio Solidário, de uma nova ligação entre consumidor e produtor, envolvendo conscientização, transparência e sustentabilidade entre ambos, pensando também no meio-ambiente.


Mais de 19 milhões de pessoas pelo mundo já abraçaram a causa. No Brasil, na cidade de Salvador, a campanha teve relevância na 2ª Conferência Mundial do Café, onde pequenos fazendeiros de toda a América Latina, responsáveis por dois terços da produção do café vendido em âmbito internacional, puxaram o microfone para si e reivindicaram contra os grandes produtores e os impostos, e obtiveram grandes conquistas, através do documento que ficou conhecido como 'Carta de Salvador'.

Chris Martin deverá agora aparecer em mais propagandas, não apenas devido à essa causa nobre. A Gravadora EMI, no Reino Unido, permitiu essa semana o patrocínio de outras empresas aos seus artistas, pois a gravadora encontra-se em uma grave crise financeira, e anunciou também um corte de mais de 2 mil funcionários com o objetivo de controlar a sua renda.

Coldplay, Robbie Williams, Rolling Stones e outros vários artistas já demonstraram estar insatisfeitos com essas parcerias, porém deverão ter seus lançamentos associados a empresas, que ainda não foram divulgadas pela EMI.