2/17/2007

O Outro Lado da Moeda

O Outro lado da Moeda.

Os remorsos seriam obscenos porque implicam tentativa racionalizante, pouco importa se falha e falida, de negar-se como aquele que teria agido assim ou assado.
A frase-emblema do homem bem poderia ser: “se eu pudesse voltar atrás, faria tudo diferente, ah, não faria aquilo que fiz”. O arrependido tenta desobrigar-se de sua responsabilidade não só perante os demais, mas, principalmente, perante a si mesmo, uma vez que procura negar ser aquele que foi (negação, de resto, absurda, porque impossível).
Sustenta-se na possibilidade de poder voltar atrás e desfazer não só o que fez e disse, como ainda todas as conseqüências (quando essa possibilidade, simplesmente, não há).
Elide os fenômenos da sua história particular, tentando esgarçar e desmontar as relações em nome de um valor superior (aquele no qual pensa só-depois) que, todavia, não existe. O que há é irresponsabilização, se as conseqüências do que fizemos nos alcançam de qualquer modo, indiferentes a que tenhamos “melhorado” nesse meio-tempo, indiferentes às nossas manifestações mais ou menos compungidas de arrependimento.
Se o fizemos, se o dissemos, é porque o quisemos, é porque foi de algum modo preciso, necessário; se o fizemos, se o dissemos, é porque assim mesmo nos constituímos o que agora somos, é porque de algum modo valeu a pena; se o fizemos, se o dissemos, logo, devemos desejar fazer e dizer novamente, celebrando a vontade e o desejo como a essência do que somos.

Na verdade, só afirmando o tempo passado se pode afirmar o passar do tempo. Por isso, o eterno retorno compõe-se dentro de uma doutrina ética que, justamente, celebra a vida.

Nenhum comentário: