4/08/2008

Muitas respostas são dadas no calor das perguntas, outras tantas exigem concentração e sabedoria para serem elaboradas - pois serão respondidas uma única vez e tudo então se tornará um eterno retorno.
As pessoas temem a morte, mesmo encarando-a como um fato certo, talvez a única certeza enquanto nos efetivamos no espaço e no tempo. Mas enquanto sou, a morte não é, e quando a morte é, eu não sou.
Só que nem sempre aceitamos a lógica de Epicuro assim tão facilmente quanto a proferimos: a Vida é uma experiência única, uma chama entre duas escuridões, uma flor entre dois abismos. É poesia, magia e muitas vezes estamos apáticos ao que não nos convém.
Por essa razão questionamos sempre a eternidade que está por vir, mas não nos lembramos da escuridão que existiu antes de virmos ao mundo. Talvez sejam diferentes sombras, talvez só exista luz saindo desse túnel, mas a vida é a ponte que liga duas existências onde homem algum tem certeza de seus passos, ou mesmo de suas crenças.
Quando cheguei, ganhei não só a existência mas o mundo inteiro! É um presente incrível, sem sombra de dúvida! Mas viemos com choro, enquanto as pessoas ao redor estavam sorrindo. A existência anterior era melhor ou desde então já presenciamos o medo que temos da morte no primeiro suspiro de vida que tivemos ao surgir? É o mesmo medo do desconhecido, eu acredito.
Mas então choramos e crescemos: ganhamos asas, liberdade e conhecimento. Abraçamos o mundo de uma forma impressionante. Quanto mais sabemos, mais nos esquecemos da magia da nossa realidade, do orvalho na chuva, da lagarta que se faz borboleta... Ficamos apáticos ao universo e às estrelas.
Mas uma coisa os nossos ancestrais já faziam e ainda nada mudou: olhamos para o céu estrelado e vemos o universo como o telhado do desconhecido. Qual é a probabilidade de um universo existir? A criação como um todo já é improvável! Mas nós procuramos equações, dar nomes - a razões e a sentimentos, a evasões e ao alienamento. E se existe um Deus, ele não só é um ás em se esconder, como também é o curinga desse imenso baralho!
É interessante então ver que nós crescemos, conhecemos, respiramos desse mundo em uma existência ínfima para o universo - que continua a se expandir, a ganhar fronteiras, e permanece se afastando de tudo - e nós então nos afastaremos de todos. Realmente é impressionante como percebemos que um dia não existirão mais outros dias - não para nós.
E então teremos que nos esquecer de tudo, dar adeus àqueles que amamos, àquilo que nos fez bem, nos fez fortes e nos fez crescer durante a curta existência que usufruímos juntos. A despedida, apesar de certa, é o que trará mais dor - abandonar essa grande aventura no mundo!
A despedida traz medo - o fechar de olhos pra todo o universo, um céu sem estrelas.
E aqueles que conceberam a nossa estada na existência se tornarão a razão da nossa dor: porque dar a vida é também sentenciar a garantia da morte, a certeza de que a chama irá se apagar, mais dia menos dia. Quando abandonar o mundo, alguém estará chorando, outros estarão nascendo e chorando também, e eu, como hei de estar? E para onde hei de ir?
Se me fosse permitida a escolha e eu tivesse o arbítrio de aceitar ou não as regras, muitas vezes pensei em simplesmente negar educadamente também, e continuar no desconhecido. A nossa vida é o conjunto das escolhas que fizemos quanto ao uso do nosso tempo, na nossa existência no espaço.
Só que todo conto de fadas tem as suas regras. Quem sabe o por quê da Cinderela ter que abandonar o baile à meia-noite? Mas assim teve que ser. A regra do nosso conto de fadas é saber que um dia baterá a meia-noite também para a nossa aventura, e é tempo de abandonar o baile e subir na abóbora de volta para... para não sei onde - cá e lá outra vez.
Para a aventura valer a pena, acho que todos devemos deixar um sapato de cristal nesse mundo, algo maior que a Esperança, tão eterno quanto o tempo - mesmo que seja eterno apenas no coração de uma pessoa, que seja um momento, por um único e breve segundo. Tem que existir aquilo que torne a passagem pelo mundo memorável, para poder fechar os olhos em paz e embarcar em uma nova aventura.
Mas é realmente olhando para as estrelas que a gente percebe que outras tantas pessoas encararam o céu e o desconhecido e seguiram em frente. Se eu pudesse escolher, criaria mais uma regra a esse acordo - só me permitir voltar às sombras quando tivesse plantado uma semente em algum coração e então poderia me despedir com a sensação de serviço cumprido.
Olhar para a morte é então observar a vida, à mercê do tempo e dos dias, em função do canto de um galo velho. E então percebo que estou coberto por uma luz que não produz sombras. Posso enfim fechar meus olhos e voar sobre as estrelas, aceitando as regras desse jogo.

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